segunda-feira, 18 de maio de 2009

A compreensão do sofrimento


Se não há compreensão do sofrimento, não há sabedoria; o fim do sofrimento é o começo da sabedoria. Para se compreender o sofrimento e dele se ficar livre completamente, requer-se compreensão, não só do sofrimento individual, particular, mas também do imenso sofrer humano. Se não estamos totalmente livres do sofrimento, não pode haver sabedoria e tão pouco terá a mente possibilidade de investigar deveras essa imensidade que se pode chamar Deus, ou outro nome qualquer.
A maioria de nós está sujeita ao sofrimento em diferentes formas: nas relações, quando ocorre a morte de alguém, quando não podemos preencher-nos e decaímos até nos reduzirmos a nada, ou quando tentamos realizar algo, tornar-nos importantes e tudo redunda em completo malogro. E temos também o “processo” do sofrimento no plano físico: doença, cegueira, invalidez, paralisia, etc. Por toda a parte se encontra essa coisa extraordinária chamada “sofrimento” — com a morte à espreita em cada volta do caminho. E não sabemos enfrentar o sofrimento e, assim, ou o divinizamos ou o racionalizamos, ou, ainda, tratamos de evitá-lo. Ide a qualquer igreja cristã e vereis que lá se diviniza o sofrimento, tornam-no algo de grandioso, de sagrado, e diz-se que só pelo sofrimento, só pela mão de Cristo, o Crucificado, se pode encontrar Deus. No Oriente, há métodos próprios de fuga, outras maneiras de evitar o sofrimento; e é um facto singular serem tão raros — tanto no Oriente como no Ocidente — os que estão verdadeiramente livres do sofrimento.
Seria maravilhoso se, no processo de nosso escutar — sem emocionalismo nem sentimentalismo — o que se está dizendo, e pudéssemos compreender realmente o sofrimento, e dele ficar completamente livre; porque, então, já não haveria automistificação, nem ilusões, nem ansiedades, nem medo, e o cérebro poderia funcionar clara, penetrante, logicamente. E, então, talvez chegássemos a conhecer o Amor.
Ora, para se compreender o sofrimento é necessário investigar todo o “processo” do tempo. Tempo é sofrimento, não só sofrimento do passado, mas também sofrimento que inclui o futuro — a idéia de chegar, a esperança de algum dia nos tornarmos algo, com sua inevitável sombra de frustração. A idéia de consecução, de “vir a ser” algo no futuro (e isso é tempo psicológico) representa o sofrer máximo — e não o facto de perder um filho, de ser abandonado pela mulher ou marido, ou de se não alcançar êxito na vida. Tudo isso é bastante trivial. Há um sofrimento muito mais profundo, que é o tempo psicológico: o pensar que mudarei em anos futuros; que, se se me dá tempo, me transformarei, quebrarei as cadeias do hábito, alcançarei a liberdade, a sabedora, Deus. Tudo isso exige tempo — e este, para mim, é o sofrimento máximo. Mas, para podermos aprofundar o problema, temos de descobrir porque há sofrimento dentro em nós — essa onda de sofrimento que nos envolve e aprisiona. Compreendendo, primeiramente, o sofrimento existente em nós, talvez possamos também compreender o sofrimento humano coletivo, o desespero da humanidade.

3 comentários:

  1. Belo texto, profundo ao som desta melodia penso na vida.
    Abraços de LUZ!

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  2. O sofrimento humano é o sofrimento como expressão do amor.

    Lindo texto!
    Abraços

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  3. O texto é um bocado extenso e complexo, mas dá para compreender mais um pouco sobre o sofrimento, penso eu.
    bjs

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