quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Cristão Reconvertido.

- Frédéric Lenoir, no editorial do dossier sobre os “cristãos budistas”, ao referir-se à personalidade do Dalai Lama e ao seu discurso sobre tolerância, não-violência e compaixão _ que tanta ressonância tem no Ocidente _ sublinha a ausência de proselitismo que, por outro lado, é uma nota constante das religiões monoteístas. É conhecida a fórmula do monge tibetano: “Não vos convertais, ficai na vossa religião”. Mas não falta quem veja nesse desprendimento uma táctica eficaz para atrair ocidentais cansados de manipulação.
F. Lenoir conta uma história testemunhada por ele na Índia, em Dharamsada, quando foi entrevistar o Dalai Lama, que prova o contrário e talvez exprima bem as estrofes de uma oração muito citada por este autêntico Bodhisanttva da Compaixão. “Tanto quanto dure o espaço / e tanto quanto os seres permaneçam, / possa também eu permanecer / e dissipar o sofrimento dos seres”.
Essa história não é longa. No dia anterior à sua entrevista,
(F. Lenoir) encontrou, no hotel, um budista inglês, Peter e o seu filho Jack de 11 anos. Alguns meses antes tinha morrido a esposa de Peter, depois de uma longa doença e de muito sofrimento. Peter tinha pedido ao Dalai Lama um encontro de cinco minutos, o tempo de uma bênção.
Depois da entrevista do jornalista, seguiu-se a de Peter e Jack. Não foram cinco minutos. Foram duas horas. Peter contou-me o que lhes tinha acontecido:
“Comecei por lhe falar, banhado em lágrimas, da morte da minha esposa. O Dalai Lama abraçou-nos. Perguntou-me, depois, qual era a minha religião. Contei-lhe as minhas origens judaicas e a deportação da minha família para Auschwitz que tinha recalcado. Esta ferida profunda abriu-se e fiquei submergido pela emoção. Dalai Lama abraçou-me novamente. Senti as suas lágrimas de compaixão: ele chorava comigo e tanto como eu. Falei-lhe, depois, do meu itinerário espiritual: a minha falta de interesse pela religião judaica, a minha descoberta de Jesus através da leitura dos Evangelhos, a minha conversão ao cristianismo, que, há vinte anos foi a grande luz da minha vida. Veio, depois, a decepção, ao não encontrar a força da mensagem de Jesus na Igreja Anglicana, o meu afastamento progressivo, a minha necessidade profunda duma espiritualidade que me ajudasse a viver e a descoberta do budismo, que pratico, desde há vários anos, na sua versão tibetana. Quando acabei, o Dalai Lama ficou silencioso. Depois, voltou-se para o seu secretário e falou-lhe em tibetano. Este último voltou com um ícone de Jesus. Fiquei estupefacto. O Dalai Lama entregou-mo com estas palavras: ‘Buda é a minha via, Jesus é a tua’. Era a terceira vez que me vinham as lágrimas. Encontrei, de repente, todo o amor que tinha por Jesus no momento da minha conversão, vinte anos antes. Compreendi que tinha continuado cristão. Procurava no budismo um suporte de meditação, mas no fundo, nada mexia tanto comigo como a pessoa de Jesus. Em menos de duas horas, o Dalai Lama reconciliou-me comigo mesmo e curou-me as feridas profundas. Ao partir, prometeu a Jack que o iria encontrar todas as vezes que fosse a Inglaterra”.
F. Lenoir escreve que nunca mais poderá esquecer o rosto transformado deste pai e do seu filho. A compaixão do Dalai Lama não era uma palavra vã e nada tinhas a invejar à dos santos cristãos.

2 comentários:

  1. Caro Amigo Fausto,

    Vim retribuir a sua visita e deparo com um excelente texto que, realmente, faz a diferença.

    Muitos parabéns por o ter publicado.

    A via para a libertação (ou iluminação) é uma estrada tão larga quanto o nº. de pessoas existentes. O que importará é coerência e capacidade para sentir os sentimentos dos outros, tal como o Dalai Lama que chorou abraçado a alguém que ele não conhecia antes.

    Um grande ABRAÇO e voltarei mais vezes.

    José António

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  2. Também gostei muito do texto, desculpe-me a resposta tardia, mas só agora é que tive novamente acesso ao blog, vou continuar actualizando-o, paz.

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