quarta-feira, 26 de maio de 2010

Ego - O falso centro (Parte 1)


Um ponto a ser compreendido é o ego. Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência do seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam nos outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso. Nascimento significa vir a este mundo, o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce neste mundo. Ela abre os seus olhos, vê os outros. O "outro" significa o tu. Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente do seu próprio corpo. Este também é o outro, também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando a sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É desta maneira que a criança cresce. Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando consigo, ela se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência reflectida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que esta pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se ela aprecia a criança, se diz: "Você é bonita", se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem consigo mesma. Agora um ego está a nascer. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está a nascer. Mas esse centro é um centro reflectido. Ela não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito. E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida; sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é o ego. Isso também é um reflexo. Primeiro a mãe - e mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são reflectidas. O ego é um fenómeno acumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não. O verdadeiro pode ser conhecido somente através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ela é uma disciplina. O verdadeiro pode ser conhecido somente através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade directamente. Primeiro tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Depois tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.

2 comentários:

  1. Fausto,um texto muito reflexivo!Temos que reconhecer o nosso ego como algo que não somos,algo construido pelo social e só então iremos a busca do nosso verdadeiro ser!Gostei muito!Abraços,

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  2. Através do outros nós nos conhecemos, sem o outro o nosso ego não se manifesta, mas também não se conhece, e só conhecendo o seu ego, o seu íntimo, é que conheceremos a nossa verdade-realidade, nós (seres humanos) ao nível sub-consciente, somos uma unidade, e quando o nosso ego entra, separamo-nos dessa unidade, mas mais uma vez ao separamo-nos da unidade, conhecemos a nossa verdade, que é unicidade, altruísmo, e compaixão ao próximo, abraços e muita paz...

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